O Espiritismo, conceituado pelo insigne Codificador como "a nova ciência que vem revelar aos homens e ao mundo, por provas irrecusáveis, a existência do mundo espiritual e dos espíritos e a suas relações com o mundo da matéria, vem restabelecer e dar sentido verdadeiro às palavras de Jesus, dissipando as trevas e confundir os orgulhosos da ciência material e os intérpretes materialistas da Boa Nova.
Para estruturar as atividades da nascente doutrina e visando criar condições de bem estudá-la e formulá-la nos detalhes precisos evitando a interpretação divergente, o Codificador preocupou-se, como se lê em Obras Póstumas, com um local "convenientemente situado e disposto para as reuniões e as recepções. Sem nele colocar um luxo inútil que estaria deslocado, seria necessário que nele nada acusasse penúria e que apresentasse um aspecto tal que as pessoas de distinção pudessem estar lá sem se considerarem diminuídas". Allan Kardec enumera, na seqüência, as necessidades da instalação onde se dariam as reuniões.
Kardec criava, assim, a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas em 1o de abril de 1858. A partir daí, surgem em outras cidades francesas novas sociedades, todas organizadas nos moldes estabelecidos pelo Codificador. No Brasil, a palavra "centro" surge com a proposta de "centralizar as ações de estudo e de encontro dos militantes espíritas", sendo assim o nome mais adotado, embora as palavras sociedade, núcleos, grupos, apareçam com bastante freqüência.
Ouvimos todos os dias, nas diversas palestras espíritas ou nos estudos das casas, as expressões: o centro espírita é uma escola; é uma oficina de trabalho, é um hospital. Em Emmanuel, encontramos o conceito de empresa de redenção; em Vianna de Carvalho, o conceito de empresa divina; em Leopoldo Machado, clube de espiritualidade; e Bezerra de Menezes esculpe o conceito de Centro de Renovação Social e Humana.
O conhecido filósofo espírita brasileiro Herculano Pires lapidou conhecida frase que vale a pena aqui citar para contextualizar a idéia do que queremos expressar. Diz Herculano: "Se os espíritas soubessem o que é o centro espírita, qual é a sua função e significação, o Espiritismo seria hoje o mais importante movimento cultural e intelectual da Terra. Temos, prossegue Herculano, no Brasil – e isso é consenso universal – o maior, mais ativo e produtivo movimento espírita do Planeta". Com estes conceitos bem situados, norteando os passos seguintes, considerando assim, o centro espírita como a universidade do espírito, foquemos os seus objetivos – Estudo, Difusão e Prática da Doutrina Espírita.
Por que estudar o Espiritismo?
Allan Kardec propõe, no projeto 1868, que "um curso regular de Espiritismo seria professado com o objetivo de desenvolver os princípios da ciência e propagar o gosto pelos estudos sérios. Este curso teria a vantagem de fundar a unidade de princípios, de fazer adeptos esclarecidos capazes de difundir as idéias espíritas e desenvolver grande número de médiuns. Considero esse curso como podendo exercer uma influência capital sobre o futuro do Espiritismo e sobre suas conseqüências". Ora, desde que Espiritismo apoia-se na ciência, não pode o profitente espírita fugir do estudo. E ainda o Codificador ao apontar o estudo, refere-se a estudo sério, que enfoca o tríplice aspecto da doutrina – Ciência, Filosofia e Religião - e a tríplice finalidade do centro – Conhecimento, Divulgação e Prática da Doutrina.
O Espiritismo bem compreendido não só evitará dissenções interpretativas que tantos males causaram ao cristianismo, nos seus 18 séculos, como também potencializará a alavanca que o impulsionará a tomar os rumos que está chamado a percorrer, a fim de que a proposta do Cristo possa ter continuidade. O estudo do Espiritismo, assim, tem as seguintes finalidades:
DESENVOLVIMENTO DA FÉ RACIOCINADA: - "E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará".(Jo 8:32). Quando utilizarmos a lógica, o bom senso e a razão com equilíbrio, como recomenda nosso codificador, a fé tornar-se-á sem dúvida um sentimento maravilhoso nos dando a certeza do caminho a seguir.
FAVORECIMENTO DA EDUCAÇÃO MEDIÚNICA: - "A respeito dos dons espirituais não quero, irmãos, que sejais ignorantes". (I Cor 12:1) A mediunidade bem estudada e entendida faz com que sua prática torne-se mais consciente e seja promovida a educação mediúnica, ressaltando o seu caráter assistencial. Não basta ser médium. É preciso ser disciplinado, buscar incessantemente a reforma íntima e estudar. Instruí-vos, advertiu-nos o Espírito de Verdade.
ESPÍRITAS CONSCIENTES: - "Seja, porém, a tua palavra: Sim, sim; não, não". (Mt 5:37) O estudo leva ao discernimento e o discernimento leva à conscientização, com o aprofundamento no campo do estudo doutrinário. Os participantes do Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita tornam-se assim espíritas conscientes de seu papel tanto no meio espírita quanto na sociedade.
FORMAÇÃO DE EXPOSITORES DA DOUTRINA: - "Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e, sim, unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e assim transmita graças aos que ouvem".(Ef 4:29). Com o estudo participativo incentiva-se a desinibição e o compartilhamento dos ensinos cristãos. Aí temos o campo fecundo à formação de expositores da doutrina espírita.
DIFUSÃO DAS IDÉIAS ESPÍRITAS: - "E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que fique eternamente convosco. (...)Mas o Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará recordar tudo o que vos tenho dito". (Jo 14:16 e 26) O Espiritismo restabelecerá a religião do Cristo e está chamado a desempenhar o papel de transformação moral da humanidade. E somos nós os obreiros que teremos que executar a tarefa que nos foi confiada.
O estudo da Doutrina mostra assim ao espírita a necessidade da mudança. E apresenta com clareza os passos que deve dar rumo à sua evolução, tendo a doutrina como farol. Allan Kardec em "O Livro dos Médiuns", Primeira parte, Capítulo III, item 28 classifica os espíritas em quatro categorias: espíritas experimentadores, os espíritas imperfeitos, os espíritas cristãos e espíritas exaltados. O Centro Espírita, qual universidade do espírito, deverá dar ao seu freqüentador a condição de verdadeiro espírita ou seja, verdadeiro cristão.
O Centro Espírita para se ajustar aos postulados kardecianos deverá propiciar todas as oportunidades de conhecimento a fim de que o espírita, passe a compreender o papel da Doutrina, a qual não pode ficar adstrita ao ambiente de suas paredes, estendendo-a ao lar, ao trabalho e ao local onde vive, O Centro Espírita, assim deixa de ser apenas o prédio para substancionalizar-se também nas trocas afetivas e caridosas do bem que seus integrantes realizam anonimamente. Alcança assim, outras dimensões, tais como acontecem nas reuniões mediúnicas, quando o ambiente se amplia a limites não concebidos pela nossa rudimentar percepção.
O posto de socorro, a casa de evangelização, o núcleo de estudo, a casa de oração à luz do conhecimento espírita amplia-se e agiganta-se à medida que o espírita cristão começa a compreender a sua função e significado.
Centro Espírita conquanto no campo físico seja o agregado de barro, tijolo, areia, cimento, tintas e telhas, transcende a este entendimento, no campo do espírito, quando se torna espaço de aprendizado, fraternidade e convivência, pois que, pela compressão da doutrina e de seus postulados, amplia-se na medida que os seus freqüentadores são capazes de se transformarem e transformar a realidade onde estão pelos exemplos do bem que vivenciem.
O autor é Cel PM RR, Presidente do Núcleo Espírita Irmão Maurício da CME em Vitória, ES.